Personagens que fizeram História

 

Adhemar Ferreira da Silva

 

Adhemar Ferreira da Silva nasceu em 29 de setembro de 1927, na cidade de São Paulo. De família pobre, começou a trabalhar muito cedo para auxiliar no orçamento familiar.
Trabalhando de dia e estudando à noite, o jovem Adhemar só iria conhecer o atletismo aos 18 anos, quando começou a treinar em sua hora de almoço. Em seu primeiro salto, considerado excepcional para um iniciante, conseguiu a incrível marca de 12,90m.
Ao saltar 15m, conseguiu se classificar para as Olimpíadas de Londres em 1948, a primeira a ser realizada depois da Segunda Guerra Mundial.
As Olimpíadas de Helsinque consagrariam Adhemar definitivamente. Já campeão mundial (com a marca de 16,01m), ele quebrou seu próprio recorde em quatro das seis tentativas de salto a que tinha direito, consagrando-se campeão olímpico com 16,22m. Ao subir ao pódio para receber a medalha de ouro, muito emocionado, Adhemar teria dado uma volta completa na pista para agradecer a ovação, criando assim a famosa volta olímpica, até então inexistente.
Sua última participação olímpica foi em Roma em 1960. Na ocasião, sem saber que havia contraído tuberculose, Adhemar conseguiu alcançar apenas o modesto 11º lugar, encerrando sua carreira olímpica.
Adhemar Ferreira da Silva foi um grande esportista, bicampeão olímpico, dez vezes campeão brasileiro, pentacampeão sul-americano, tricampeão pan-americano, acumulando ao longo de sua carreira mais de 40 títulos e troféus internacionais.
Em 1956, participou como ator da peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, e no posterior filme de produção franco-italiana que acabou ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Até o ano de 2000, trabalhou para o Estado de São Paulo, sempre no setor de esportes, inclusive na organização do Gran Prix de Atletismo. Em 1996, ele se tornaria coordenador da área de esportes da Faculdade de Santana em São Paulo.
Adhemar Ferreira da Silva faleceu em 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos, vítima de parada cardíaca.

 

Aleijadinho

 

Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa) nasceu em Vila Rica no ano de 1730 (não há registros oficiais sobre esta data). Era filho de uma escrava com um mestre-de-obras português. Iniciou sua vida artística ainda na infância, observando o trabalho de seu pai que também era entalhador.

Por volta de 40 anos de idade, começa a desenvolver uma doença degenerativa nas articulações. Não se sabe exatamente qual foi a doença, mas provavelmente pode ter sido hanseníase ou alguma doença reumática. Aos poucos, foi perdendo os movimentos dos pés e mãos. Pedia a um ajudante para amarrar as ferramentas em seus punhos para poder esculpir e entalhar. Demonstra um esforço fora do comum para continuar com sua arte. Mesmo com todas as limitações, continua trabalhando na construção de igrejas e altares nas cidades de Minas Gerais.

Na fase anterior a doença, suas obras são marcadas pelo equilíbrio, harmonia e serenidade. São desta época a Igreja São Francisco de Assis,  Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões (as duas na cidade de Ouro Preto). 



 

 

André Rebouças

 

André Pinto Rebouças nasceu na Bahia, em 1838. Seu pai – filho de uma forra e de um alfaiate português – era um proeminente advogado (rábula), deputado e conselheiro de D. Pedro I. Sua mãe era filha de comerciante. Alguns de seus tios tornaram-se famosos no recôncavo: José tornou-se maestro da orquestra do Teatro de Salvador, Mauricio foi catedrático da Escola de Medicina da Bahia e, Manuel, alto funcionário da Justiça.

André, formou-se em Engenharia pela Escola Central do Exército em 1860, no Rio de Janeiro. Na Europa, especializou-se em fundações e obras portuárias e foi uma das maiores autoridades brasileiras em engenharia ferroviária e hidráulica. De 1865 a 1866, serviu como engenheiro na Guerra do Paraguai. Foi criador das empresas Docas do Rio de Janeiro, Maranhão, Cabedelo, Recife e Bahia. Escreveu ainda diversos artigos de cunho técnico, ligados aos diversos ramos da engenharia.
 

Foi um dos mais ativos militantes do movimento abolicionista brasileiro e um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Escreveu inúmeros artigos no jornal Gazeta da Tarde, estimulou a criação de uma Sociedade Abolicionista na Escola Politécnica, onde lecionou em 1883, e redigiu com José do Patrocínio o Manifesto da Confederação Abolicionista. Ajudou também a redigir os estatutos da Central Emancipadora.

Muito amigo de D. Pedro II, já que era monarquista convicto, André Rebouças acompanhou o Imperador em sua viagem para o exílio. Entre 1889 e 1891, Rebouças permaneceu em Lisboa, trabalhando como correspondente do jornal The Times, de Londres. Em 1892, arruinado financeiramente, aceitou um emprego em Luanda, Angola. Em 1893, fixou-se na Ilha da Madeira, onde veio a falecer no dia 9 de maio de 1898.

 

Antonieta de Barros

 

 

Nascida em 17 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.

 

Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927. Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em 1952, além de ter lecionado em outros três colégios.

 

Manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, que a elegeu deputada estadual. Tornou-se, desse modo, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos diretos da mulher catarinense.

Auta Souza

 

Auta de Souza nasceu em 1876, no município de Macaíba, Rio Grande do Norte. Seus pais morreram quando ela era criança e Auta foi criada pelos avós maternos em Recife. Educada em colégio católico, rapidamente aprendeu Francês, Literatura, Inglês, Música e Desenho. Em razão do diagnóstico de tuberculose, aos 14 anos, teve que deixar o colégio, mas continuou sua formação intelectual sozinha, tornando-se autodidata. Em 1894, ela começaria a escrever para a revista Oásis, de circulação restrita, pois era veículo do grêmio literário Le Monde Marche.
Dois anos depois, passaria a colaborar no jornal A República, periódico com maior visibilidade que o primeiro, não só porque era o mais lido, mas por estabelecer permuta com a imprensa de outras regiões. Assim, mesmo vivendo fora do circuito de maior efervescência intelectual, Auta passaria a ser conhecida e ter seus poemas divulgados no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro
A partir de 1897, Auta passaria a publicar seus versos assiduamente em A Tribuna, de Natal, um jornal de prestígio, com participação de vários escritores famosos do Nordeste. Sua poesia possuía leves traços simbolistas e circulou nas rodas literárias do país, despertando sempre muita emoção e interesse.
Entre 1899 e 1900, ela usaria os pseudônimos de Ida Salúcio e Hilário das Neves para assinar seus poemas. Seu grande e único livro publicado foi Horto, de 1900, que mereceu prefácio do mais consagrado poeta brasileiro da época, Olavo Bilac. Pouco depois, em 7 de fevereiro de 1901, com 24 anos, Auta sucumbiria à tuberculose.
A poetisa Auta de Souza, autora de textos de conteúdo místico e inspiração cristã, inovou ao escrever profissionalmente numa sociedade em que este exercício era reservado exclusivamente aos homens. Seus versos retrataram suas experiências e ficaram bastante conhecidos, ao serem incluídos em várias antologias e manuais de poesia das primeiras décadas do século XX. Em 14 de novembro de 1936, a Academia Norte-Rio Grandense de Letras instalou a poltrona XX, dedicada a Auta de Souza, em reconhecimento à sua poesia.

 

Chiquinha Gonzaga

 

 

Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1847. Seus pais – uma mulata solteira e o Marechal Jose Basileu Neves Gonzaga, na época primeiro tenente – só viriam a se casar quando Chiquinha tinha três anos. Por conta da família paterna, Francisca teve a educação esmerada dada às moças de boa estirpe no século XIX. Sua família gozava de certo prestígio, pois era parente distante do Duque de Caxias.

Chiquinha casou-se aos 16 anos. A independência e o amor à música foram motivos de desentendimentos desde o início de sua relação. Seu casamento durou pouco. Ainda assim, desta união resultaram três filhos. Mais tarde, Chiquinha se envolveu com João Batista de Carvalho Junior, com quem teve uma filha. Em 1899, conheceu João Batista Fernandes Lage, jovem português de apenas 16 anos. Nasceu então um romance que durou até o fim de sua vida, apesar da diferença de idades.

Francisca foi uma mulher pioneira em vários aspectos. Primeiro porque não agiu de acordo com os preceitos de sua classe social ao se separar, fato incomum que causou escândalo na época. Depois, por escolher uma profissão que pertencia essencialmente ao universo masculino: tornou-se compositora para o teatro de revista e mais tarde se transformaria numa grande regente.

Precursora da música popular brasileira, enfrentando preconceitos machistas, compôs músicas para 77 peças teatrais e assinou cerca de 2 mil composições. Chiquinha é autora de Ó, abre alas, a primeira marchinha de carnaval do país. Mais tarde, para espanto geral, seu maxixe Corta-Jaca foi tocado pela primeira-dama, numa recepção no Palácio do Catete.

Defensora dos direitos autorais dos músicos, foi uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a Sbat, que existe até hoje. Ao mesmo tempo em que era engajada em defesa de sua profissão, tinha uma visão social mais ampla. Lutou pelo fim da escravidão e apoiou vivamente a causa republicana.

Chiquinha começou sua carreira de maestrina em 1885, com a revista A Corte na Roça. Suas duas primeiras peças não foram aceitas pelo fato dela ser mulher. Ainda assim, Chiquinha seria celebrizada como primeira maestrina brasileira. 

Em 1912, foi encenada a peça Forrobodó. Seus personagens eram tipos populares, característica inusitada na época, e caíram no gosto do público. As músicas do espetáculo, de autoria de Chiquinha, eram cantadas por toda a cidade. Foi seu maior sucesso teatral e um dos maiores êxitos de toda a história do teatro de revista do Brasil.

Chiquinha Gonzaga viveu até os 87 anos, compondo até os 85. Faleceu no dia 28 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro.

 

 

 

Cruz e Sousa 

 

Em 24 de novembro de 1861, nasceu João da Cruz e Souza, na antiga Desterro, hoje Florianópolis, capital de Santa Catarina. Filho de um casal de forros do Marechal Guilherme, teve uma educação esmerada, patrocinada pelos patrões de seus pais, dos quais adquiriu seu sobrenome.

Freqüentou as melhores escolas de Florianópolis, tornando-se jornalista e professor. Foi defensor da causa abolicionista e percorreu o Brasil em campanha contra a escravidão. Sua poesia, naquele momento, refletia suas posições políticas. Com Tropos e Fantasia, livro de 1885, Cruz e Souza se notabilizou por denunciar a acomodação da Igreja Católica à causa da escravidão.

Após a abolição da escravatura, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1890. Publicou os livros Missal e Broqueis, lançados simultaneamente em 1893.


Sua poesia explicitava o conflito de ter tido uma sólida educação européia, ao mesmo tempo em que portava a bagagem cultural de origem africana. Segundo Nei Lopes, esse dilema lhe permitiu criar uma poética singular.

Em 1897, com tuberculose, concluiu os livros Evocações e Faróis, entregando seu espólio literário ao amigo Nestor Vítor. Cruz e Souza faleceu em decorrência de sua enfermidade em 19 de março de 1898, na cidade de Sítio (atual Antônio Carlos), em Minas Gerais.

Nestor Vítor, um grande incentivador de Cruz e Souza, promoveu postumamente a edição de Evocações, ainda no mesmo ano da morte do autor. Em 1900 foi a vez de Faróis. Últimos Sonetos foi publicado em Paris em 1905. A primeira edição da obra completa do poeta sairia em 1923.

Cruz e Souza não chegou a gozar de grande prestígio em vida, mas foi considerado o maior expoente do simbolismo brasileiro, uma escola que abriu os caminhos para o Modernismo da Semana de 1922.

 

 

Gilberto Gil

 

 

 

Gilberto Gil (1942) é um músico brasileiro e um dos criadores do movimento tropicalista nos anos 60. Nasceu em Salvador. Filho de médico, viveu durante um tempo no interior da Bahia, onde recebeu grande influência da música popular. Ainda na infância, ganhou um violão de presente da mãe e conheceu a música de João Gilberto, o que lhe deu grande impulso para se tornar músico.

Na faculdade, conheceu Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia. Posteriormente, realizaram a primeira apresentação no teatro Vila Velha, em 1964, com o Show intitulado "Nós, Por Exemplo".

A grande guinada de Gilberto Gil foi no III Festival de Música Popular Brasileira, onde apresentou a sua música “Domingo no Parque”. O festival foi produzido pela Rede Record. Gil participou do manifesto tropicalista junto com Caetano Veloso, Torquato Neto Tom Zé, Rogério Duprat. A idéia do movimento era a fusão de elementos da música inglesa e americana junto com os ritmos brasileiros. Causou polêmica, porém, abriu portas para uma nova etapa na música popular brasileira.

Em fins dos anos 60, foi exilado junto cm Caetano Veloso para a Inglaterra, por conta da censura do regime militar. Juntou-se à Maria Bethânia, Gal Costa e Caetano e formou a banda chamada Doces Bárbaros, que rendeu várias turnês e um álbum.

Gil é dono de canções que fizeram sucesso no Brasil. Algumas delas: “Procissão”, “Vamos Fugir”, “Aquele abraço”, “Domingo no Parque”, “Drão”, “Não Chores Mais”, “A Novidade”, "A Raça Humana”, “Realce”, entre outras. Compôs também para diversos artistas como Elis Regina, Simone, Gal Costa e Cazuza.



Jackson do Pandeiro

 

José Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro, nasceu em Alagoa Grande, na Paraíba, em 31 de agosto de 1919. Vindo de uma família de artistas populares – a mãe era cantora de pastoril –, sua história reforça a influência da cultura negra na música nordestina. Jackson é considerado um dos maiores ritmistas da história da MPB. Em 54 anos de carreira, foi responsável, ao lado de Luiz Gonzaga, pela popularização nacional de canções nordestinas.

No início da década de 1940, mudou-se para João Pessoa, onde tocou em cabarés e depois na Rádio Tabajara até 1946. Em 1948, foi trabalhar na Rádio Jornal do Comércio, em Recife. Lá, por sugestão do diretor do programa, ganhou o nome artístico Jackson, considerado mais sonoro.

Somente em 1953, já com 35 anos, Jackson gravou o seu primeiro grande sucesso, Sebastiana, que já era uma amostra de suas inovações estéticas, com improvisações de vocalizações com tempo variado. Logo depois, emplacou outro sucesso: Forró em Limoeiro, rojão composto por Edgar Ferreira.

Em Recife, conheceu sua esposa e parceira, Almira Castilho, uma ex-professora que cantava mambo e dançava rumba. Jackson e Almira formavam uma dupla no palco e na vida. A união durou até 1967, quando se desfizeram a parceria e o casamento.

Durante a década de 1950, Jackson e Almira ganharam projeção nacional e começaram a atuar em filmes populares, como Minha sogra é da polícia, Cala a boca Etelvina, Tira a mão daí e Batedor de carteiras.
 

Em 1981, gravou seu último trabalho, pela Polygram, Isso é que é forró. Em 10 de julho de 1982, durante uma excursão no Rio de Janeiro, Jackson do Pandeiro faleceu em decorrência de complicações de uma embolia pulmonar e cerebral.

 

 

Joaquim Barbosa

 

 

Joaquim Barbosa (1954) é advogado brasileiro. É Ministro do Supremo Tribunal Federal. No dia 22 de novembro de 2012, tomou posse da Presidência do Supremo Tribunal Federal, acumulando as duas funções.

Joaquim Barbosa (1954) nasceu em Paracatu, Minas Gerais, no dia 7 de outubro de 1954. Filho de pedreiro e dona de casa, é o mais velho de oito irmãos. Estudou no Colégio Estadual Antônio Carlos, na sua cidade natal. Desde criança ajudava o pai fazendo tijolos e entregando lenha num caminhão da família.

Joaquim Barbosa tinha o hábito de ler tudo que encontrava, escrevia no ar e cantava em outros idiomas, diz o seu tio José Barbosa. Em 1971, a família foi tentar a vida em Brasília. Joaquim empregou-se na gráfica do Correio Brasiliense.

Continuou seus estudos em colégio público, onde completou o segundo grau. Ingressou na Universidade de Brasília, formou-se em Direito, obteve em seguida o mestrado em Direito de Estado. Tinha facilidade para línguas, dominava o inglês, alemão, italiano e francês.

Foi aprovado no concurso para oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores. Entre os anos de 1976 e 1979 serviu na Embaixada do Brasil em Helsinki, na Finlândia. Entre 1979 e 1984 foi advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO).

Foi aprovado no concurso para procurador da República. Licenciou-se do cargo e passou quatro anos estudando na França, na Universidade de Sorbone. Obteve o mestrado e doutorado em Direito Público.

Foi professor visitante na Universidade Columbia, em Nova Iorque, entre os anos de 1999 e 2000 e na Universidade da Califórnia entre 2002 e 2003. Quando estava em Los Angeles, em 2003, foi informado que seu nome era cotado para a vaga do Supremo Tribunal Federal.

É Ministro do Supremo Tribunal Federal. É o relator do processo do mensalão. Coordenou toda a fase de instrução do processo, conhece os mínimos detalhes de mais de 50000 páginas de depoimentos, laudos e perícias.

Joaquim Barbosa tomou posse da Presidência do Supremo Tribunal Federal, no dia 22 de novembro de 2012, acumulando a ainda a função de Ministro do Tribunal.



João Cândido

 

 

João Cândido Felisberto nasceu no Rio Grande do Sul, em 1880. Filho de ex-escravos, aos 14 anos entrou para a Marinha, instituição que na época era composta por 50% de negros, 30% de mulatos, 10% de caboclos e 10% de brancos. A maioria dos marinheiros, assim, era composta por homens pobres, geralmente filhos de escravos, que recebiam salários irrisórios e eram constantemente humilhados. Os castigos físicos haviam sido abolidos no Exército em 1890, mas na Marinha persistia a aplicação de chibatadas, que recaíam principalmente sobre os marujos, pois ocupavam a base da hierarquia militar.

João Cândido entrou para a História como líder da Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, contra os castigos físicos impostos aos marinheiros. Por conta deste evento, foi apelidado de Almirante Negro.

Na noite de 22 de novembro de 1910, o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi condenado ao castigo. Logo no início o rapaz desmaiou, mas continuou a receber as chibatadas. O fato fez com que centenas de marinheiros se rebelassem. A insurreição, liderada por João Cândido, começou a bordo do Minas Gerais, mas atingiu outros navios, que tiveram seus comandantes destituídos. Horas depois, cerca de dois mil marinheiros tinham sob seu comando os principais navios de guerra da esquadra, mantendo os canhões apontados para o Rio de Janeiro, então capital da República. Eles exigiam o fim dos castigos corporais na Marinha.

Com receio das conseqüências da revolta, o presidente Hermes da Fonseca atendeu aos pedidos dos marujos, pois o pânico já havia levado milhares de habitantes a fugir da cidade. No entanto, assim que os rebeldes se entregaram com a promessa de anistia no dia 25 de novembro, o governo decretou suas expulsões da Marinha. Dezoito líderes foram para uma solitária no Batalhão Naval na Ilha das Cobras, no Rio. Apenas João Cândido e um companheiro saíram vivos. Os outros 16 marinheiros morreram sufocados, pois a prisão era lavada com uma solução de água e cal – quando a água evaporava, o cal penetrava nos pulmões dos marinheiros, matando-os.

João Cândido foi banido da Marinha e chegou a ser internado em um hospício. Foi absolvido, mas nunca deixou de ser vigiado pela polícia, até mesmo em seu enterro. Teve 12 filhos, em quatro casamentos. Nunca mais conseguiu arrumar emprego fixo e passou o resto da vida trabalhando como estivador na Praça XV, no Rio de Janeiro, e fazendo biscates. Morreu em 1969, aos 89 anos, no anonimato.

No começo da década de 70, João Bosco e Aldir Blanc homenagearam João Cândido Felisberto com o samba O Mestre-sala dos mares. A história do Almirante Negro e da Revolta da Chibata ainda fazia eco nos círculos militares. A música acabou sendo vetada pela censura por trazer à tona um assunto proibido pelas Forças Armadas.

 

José do Patrocínio

 

José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos, no estado do Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1853. Era filho natural do padre João Carlos Monteiro, orador sacro de grande fama na capela imperial, membro da maçonaria, vereador e deputado de sua cidade. Sua mãe era Justina Maria do Espírito Santo, uma escrava entre os 92 cativos do padre João Carlos. José do Patrocínio passou a infância na fazenda paterna, onde pôde observar, desde cedo, a crueldade da escravidão.
Em 1881, com dinheiro emprestado de seu sogro, comprou o jornal Gazeta da Tarde, começando nele a batalha pelo abolicionismo. Em maio de 1883, fundou a Confederação Abolicionista e lhe redigiu o manifesto, assinado também por André Rebouças e Aristides Lobo. Por intermédio da Confederação, promovia debates públicos sobre o fim da escravidão, além de apoiar fugas de escravos.
Conhecido como o patrono da abolição, José Carlos do Patrocínio foi orador, poeta, romancista e considerado o maior de todos os jornalistas que defendiam o fim da escravidão. O Tigre do Abolicionismo foi um articulista famoso em todo o país.
Em 1886 e 1887 foi eleito para a Câmara Municipal. Deixou a Gazeta da Tarde em setembro de 1887, para dirigir a Cidade do Rio, vibrante órgão abolicionista.
Também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, sentando-se na cadeira 21, que tem como patrono Joaquim Serra. país.
Em 1901, por meio de seu filho que acabara de chegar de Paris, Patrocínio mostrou ao Rio um dos primeiros automóveis. Já no final de sua vida, interessou-se pela navegação aérea. Construiu um balão “Santa Cruz”, que não vingou. Durante uma homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lírico, foi acometido por uma hemoptise enquanto saudava o inventor. Patrocínio estava tuberculoso e faleceu no dia 30 de janeiro de 1905, aos 51 anos. Compareceram ao seu funeral figuras proeminentes da sociedade, como o Barão do Rio Branco, Machado de Assis e Joaquim Nabuco.

 

 

 

Juliano Moreira 

 

Afro-descendente nascido na capital da Bahia, Juliano Moreira ingressou na Faculdade de Medicina do Estado em 1886, apesar da origem humilde. Um dos pioneiros na psiquiatria brasileira, foi o primeiro professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica em suas aulas, além de ter representado o Brasil em congressos internacionais como os de Paris, Berlim, Lisboa e Milão nos anos de 1900.

 

Moreira contrariou o pensamento racista existente no meio acadêmico de sua época, que atribuia os problemas psicológicos dos brasileiros à miscigenação. À frente do Hospício Nacional dos Alienados do Rio de Janeiro, humanizou o tratamento e acabou com a clausura dos pacientes. Defendeu a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e de acesso à educação.

 

Uma de suas principais lutas foi a reformulação da assistência psiquiátrica pública.

 

Destacou-se por incentivar a promulgação da primeira lei federal de assistência aos alienados em 1903, ao mesmo tempo em que sugeriu novos formatos institucionais e de tratamento para as doenças mentais. Deve-se a esse grande cientista e gestor afro-brasileiro a criação do Manicômio Judiciário e a aquisição do terreno para construção da Colônia Juliano Moreira.

 

 

 

 

   Lima Barreto

 

 

Filho de escravos em um Brasil que lutava para abolir oficialmente a escravidão, Afonso Henriques de Lima Barreto teve oportunidade de boa instrução escolar, vindo a tornar-se jornalista e um dos mais importantes escritores e militantes da causa do País. Ainda jovem, aprendeu a trabalhar com tipografia e, em 1902, começou a contribuir para a imprensa brasileira, escrevendo para pequenos veículos de comunicação.

Em jornais de maior circulação, começou a escrever em 1905, destacando-se, especialmente, no jornal Correio da Manhã, ao realizar uma série de reportagens sobre a demolição do Morro do Castelo. Posteriormente, passou a colaborar em vários jornais e revistas, sendo considerado um dos maiores críticos contra o regime republicano. Simpático ao anarquismo, passou a militar na imprensa socialista.

Resultado das lembranças do fim do período imperial no Brasil, bem como remotas recordações da Abolição da Escravatura, os livros de Lima Barreto são pincelados com indisfarçáveis traços autobiográficos. Eles começaram a ser publicados em 1909, em Portugal, sendo o primeiro o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha. O autor teve publicados 11 livros. Sua obra mais famosa é Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

 

 

 

Machado de Assis

 

 

Nasceu no Rio de Janeiro em 1839, quando o Rio ainda era corte do Império, e depois da capital da República.Bisneto de escravos, nascido em família humilde, Machado de Assis deu seus primeiro no mundo das palavras e letras quando aprendeu a ler com a sua madrasta, apesar de realizar alguns curso regulares, sempre foi autodidata, sendo que nunca frequentou universidade.

Sendo um jovem bastante inteligente e esforçado, atuando inclusive como aprendiz de tipógrafo, além de ter sido vendedor de livro, Machado de Assis dedicou-se aos estudos e a leitura, e acabou aproximando-se de intelectuais e jornalistas, recebendo assim os primeiros convites para a publicação de seus textos em jornais e revistas da época.

Iniciou a sua vida no mundo da literatura aos 25 anos de idade com olivro de poemas Crisálidas. Paralelamente a vida de jornalista e escritor, Machado de Assis foi funcionário público, chegando inclusive a exercer importantes cargos.

Conquistou o respeito e a admiração em todo o país, sendo que no ano de 1987 liderou a fundação da academia Brasileira de Letras, na qual foi aclamado como presidente perpétuo. Machado de Assis casou-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais em 12 de Novembro de 1869, após superar a discriminação racial por parte da família dela, uma vez que ele era mulato.

Viveu até aos 69, falecendo assim em 29 de setembro de 1908, na mesma cidade onde nasceu, Rio de Janeiro.

 

 

  Mãe Menininha

                                                              

 

Batizada no catolicismo como Maria Escolástica da Conceição Nazaré ( Salvador, Bahia, 10 de fevereiro de 1894 - 13 de agosto de 1986)e no candomblé como Mãe Menininha do Gantois, foi a mais respeitável mãe-de-santo da Bahia. Além de seguidores do candomblé, por seus poderes espirituais e carisma pessoal, conseguiu agregar pessoas de todas as religiões em seu terreiro, inclusive personalidades como Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Jobim, Antônio Carlos Magalhães e Vinícius de Moraes, que só tomavam decisões importantes após consultá-la. Neta de escravos africanos da tribo Kekeré, da Nigéria, ainda criança foi escolhida pelos santos do candomblé do terreiro fundado pela bisavó, o Axé La Masse, como mãe-de-santo (ialorixá). Iniciada tia, assumiu o topo da hierarquia da religião ao completar 28 anos. Ditando as regras e comandando o terreiro, conhecido como Gantois, conseguiu maior respeito e aceitação do candomblé por outras religiões e pelo poder político, que perseguia e condenava os praticantes dos rituais. Seu mérito estendeu-se também à modernização do candomblé: mesmo abrindo as portas para integrantes e pessoas de outros cultos e religiões, não deixou que se transformasse em exploração folclórica e turística. Um modelo de vitalidade e bondade, conciliou as atividades do terreiro com a família, realizando obras de caridade.

Fonte: Klick Educação

 

 

Mário de Andrade

 

 

Alfredo da Rocha Vianna Filho nasceu em 23 de abril de 1897, no bairro de Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro. De família numerosa e amante da música, cedo conheceria vários instrumentos – aos 11 anos, já tocava cavaquinho com seus parentes. Pixinguinha estudou no tradicional colégio São Bento, de onde fugia, segundo Sérgio Cabral, para tocar naquele que seria o seu primeiro emprego, a casa de chope La Concha. Depois disso, apresentou-se em cassinos, cabarés e bares, tornando-se rapidamente muito conhecido nas noites da Lapa, reduto da boemia carioca.

O apelido Pixinguinha foi grafado já em sua primeira composição registrada, em 1914. Assim era chamado desde criança, numa derivação da palavra pizindin, originária da língua de sua avó africana. O apelido podia significar menino bom, mas a interpretação mais conhecida, segundo Nei Lopes, quer dizer comilão, provavelmente a tradução mais correta do termo.

Pixinguinha também se apresentava nos cinemas, com as orquestras que tocavam durante a projeção dos filmes mudos, e em peças do teatro. Suas primeiras gravações foram feitas entre 1914 e 1918. Até hoje é reconhecido como um dos melhores flautistas da música brasileira.

Em 1919, o gerente do Cinema Palais, Isaac Frankel, contratou Pixinguinha e seu grupo Oito Batutas para tocar na sala de espera do cinema. A banda caiu no gosto do público, apesar de alguma restrição da imprensa que fazia críticas de caráter racista. O repertório era composto de modinhas, choros, canções regionais, desafios sertanejos, maxixes, lundus, corta-jacas, batuques e cateretês.

Com o sucesso, o grupo viajou pelo Brasil até 1921. De volta ao Rio, foram tocar no Cabaré Assírio, no subsolo do Teatro Municipal. Lá, conheceram o milionário Arnaldo Guinle, que patrocinou a turnê européia dos Oito Batutas. A temporada, que deveria ser de um mês, acabou durando seis e o grupo voltou bastante influenciado pelo jazz.

Pixiguinha era funcionário da prefeitura desde 1930 e, em 1951, passou a ser professor de música e canto orfeônico, nomeado pelo então prefeito João Carlos Vital. Até se aposentar, foi professor em várias escolas, além de maestro da Companhia Negra de Revista, onde conheceu aquela que seria sua companheira por toda a vida.

Pixinguinha foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Ele criou o que hoje são as bases da música brasileira. Por ser um excepcional arranjador, compositor e instrumentista, dominava com rara sensibilidade a música dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e música negra americana. Pixinguinha arranjou os principais sucessos da chamada época de ouro da MPB, orquestrando de marchas de carnaval a choros. Escreveu cerca de duas mil músicas, consagrando-se como um dos compositores mais férteis de nossa cultura. Sua canção Carinhoso é a mais conhecida.

Em 17 de fevereiro de 1973, Pixinguinha teve seu segundo enfarte, durante um batizado no qual era padrinho. Apesar de ter sido socorrido às pressas, faleceu aos 74 anos.

Segundo Nei Lopes, Pixinguinha foi o fundador da moderna linguagem musical brasileira. Como homenagem por sua genialidade, seu aniversário passou a marcar o Dia Nacional do Choro.
 

 

Martin Luther King

 

O pastor norte-americano Martin Luther King foi um grande defensor da resistência não violenta contra a opressão racial e, por este motivo, elevado à condição de líder do movimento em favor dos direitos civis das minorias. Por sua militância em defesa da vida, recebeu, em 1964, a mais alta honraria internacional concedida aos pacifistas: o Prêmio Nobel da Paz.

 

Luther King lutou por um tratamento igualitário e contribuiu para a melhoria da situação da comunidade negra mediante protestos pacíficos e discursos enérgicos sobre igualdade racial. Em 1955, organizou o famoso boicote ao transporte público em Montgomery (Alabama), em protesto contra a prisão de Rosa Parks, uma mulher negra que recusou lugar a uma passageira branca em um coletivo.

 

A ação, que durou 381 dias, representou uma grande vitória para o protesto pacifista, fazendo com que Luther King emergisse como líder altamente respeitado. Apesar do reconhecimento, foi preso, teve sua casa atacada e recebeu diversas ameaças contra a sua vida. Em abril de 1968, foi assassinado em Memphis, Tenessee, por um branco que havia escapado da prisão.

 

Fonte: https://www.palmares.gov.br/?page_id=8228

 

Milton Santos

 

Milton Santos é considerado o maior geógrafo brasileiro. Recebeu mais de 20 títulos de doutor honoris causa, escreveu mais de 40 livros e cerca de 300 artigos científicos. Lecionou nas mais conceituadas universidades da Europa e das Américas e foi o único estudioso fora do mundo anglo-saxão a receber a mais alta premiação internacional em sua especialidade, o Prêmio Vautrin Lud (1994), considerado o Nobel da Geografia. Milton Santos também foi o primeiro negro a obter o título de professor-emérito da Universidade de São Paulo.

Acompanhou o presidente Jânio Quadros em viagem a Cuba, como jornalista, e foi nomeado representante da Casa Civil na Bahia. Na época do golpe de 64, foi despedido da Universidade Federal da Bahia e passou três meses preso em um quartel de Salvador. As agressões físicas sofridas na ocasião quase lhe custaram um olho. Só foi libertado após um princípio de infarto.

Em exílio voluntário, partiu para o exterior a convite de amigos franceses. Por 13 anos lecionou na França, Canadá, Reino Unido, Peru, Venezuela, Tanzânia e Estados Unidos. Retornou ao Brasil em 1977.

Milton foi consultor da Organização das Nações Unidas, da Unesco, da Organização Internacional do Trabalho e da Organização dos Estados Americanos. Também foi consultor em várias áreas junto aos governos da Argélia, Guiné-Bissau e Venezuela. Fez pesquisas e conferências em mais de 20 países, como Japão, México, Índia, Tunísia, Benin, Gana, Espanha e Cuba, entre outros.

Esquerdista convicto, criticava o caráter desumano das práticas globalizantes do capitalismo. Afirmava que o mercado não resolve tudo e via na população pobre o ator social capaz de promover uma outra globalização, fundamentada em princípios mais solidários.

Consciente da situação do negro na sociedade brasileira, analisava com acuidade quando dizia: “tenho instrução superior, creio ser personalidade forte, mas não sou um cidadão integral deste país. O meu caso é como o de todos os negros brasileiros, exceto quando apontado como exceção. E ser apontado como exceção, além de ser constrangedor para aquele que o é, constitui algo de momentâneo, impermanente, resultado de uma integração casual."

Morreu aos 75 anos, no dia 24 de junho de 2001, na cidade de São Paulo, em decorrência de um câncer de próstata diagnosticado em 1994. Seu último livro, escrito com a professora Maria Laura Silveira, foi publicado em 2001 com o título de O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Na ocasião do lançamento, Milton afirmou que considerava essa obra a síntese de suas idéias.

 

Odilia Lavigne

 

DRA. ODILIA LAVIGNE, UMA MULHER PARA SER LEMBRADA

Nossa intenção é homenagear todas as mulheres. Já foram homenageadas, em outros marços, grandes educadoras, mas não as simples, aquelas que se dedicam, mas não se destacam; já foram homenageadas médicas, artistas. Queríamos fazer algo diferente.

Esta semana queremos homenagear uma mulher que não tivemos a oportunidade de conhecer, mas que, temos certeza, foi extraordinária. No Brasil do início do século vinte, machista e preconceituoso, com relação à mulher e à negritude, ela conseguiu se formar em Medicina, mesmo sendo mulher e negra. Na primeira matéria falamos de uma mulher simples, do povo, analfabeta por toda sua vida, cujo sonho maior era simplesmente, poder compreender este código que o ser humano inventou há menos de dez mil anos, a escrita. Hoje vamos falar de outra, cuja trajetória foi bem diferente. A médica Odilia Teixeira conquistou o coração de um descendente de franceses, louro de olhos azuis, um grande intendente e prefeito de Ilhéus, Eusinio Lavigne.

Para escrever esta matéria procuramos o médico Dr. José Leo Lavigne, filho da nossa homenageada desta semana.

Dra Odília Teixeira Lavigne nasceu na cidade de Cachoeira, Bahia, filha do médico José Pereira Teixeira, homem honrado e dedicado à profissão, mas de origem pobre. Diz nosso entrevistado: “meu pai, depois que se casou com minha mãe teve que dar a meu avô, uma pensão generosa para ele sobreviver”.

Para estudar ela teve ajuda de um irmão, que era bacharel em Direito. Dra. Odília Teixeira se formou em medicina no ano de 1912; foi a quinta mulher a se formar em medicina na Bahia, a primeira negra. Era a única mulher da classe. Naquela época não chegava a ser incomum uma pessoa de origem simples chegar à universidade, pelo esforço pessoal e pela grande vontade de chegar lá.

Os formandos em medicina tinham que, para concluir o curso, escrever uma tese de doutoramento, por isso o título de doutor. Sua tese foi sobre a cirrose hepática alcoólica. O nome dela consta em um livro da Universidade Federal da Bahia, que em 1815 já existia com o nome de Academia Médica Cirúrgica e, em 1832 foi transformada em Faculdade de Medicina.

O advogado Eusinio Gaston Lavigne se apaixonou por ela, pelo seu conhecimento, pela sua cultura. Falava francês fluentemente e lia grego e latim; não entendia como um professor podia ensinar sem conhecer estas duas línguas. Casaram-se em 1921.

Depois de casada decidiu por abandonar a profissão para se dedicar à família. Na década de 1920 não existiam mulheres independentes, profissionais; ainda mais no interior da Bahia. E não foi exigência do marido. Eusinio não queria que ela deixasse a profissão porque era uma ótima médica ginecologista, mas ela agiu como agiria uma boa esposa e mãe daquela época. Abriu mão da profissão e da realização profissional.

Deixou de ser médica, “passou a protetora de meu pai, que não ligava para nada, não ligava para roupa, saía de qualquer jeito”. Era o anjo da guarda dele.

Para os filhos deu uma educação rigorosa, de ordem moral. Ensinava os valores morais, mesmo quando estavam longe, pois sempre lhes escrevia cartas, cobrando um comportamento correto, moralmente rigoroso.

Após o casamento moraram em Salvador, depois se mudaram para Ilhéus. Retornaram definitivamente para Salvador quando Eusínio foi destituído do mandato de prefeito, em 1937.

Dra. Odília discordava do marido em relação às questões sociais. Ele achava que os problemas sociais só seriam resolvidos pela política. Ela achava que deveriam ser resolvidas pelas ações de caridade dos que tinham mais para os que tinham menos.

Em 1953, Dra. Odilia tomou conhecimento de que o ilustre médico, escritor, professor e político Ruy Santos estava planejando publicar um livro, como de fato publicou, cujo título “Teixeira Moleque”, se referia ao seu pai, homem por quem tinha a maior admiração, como filha e pessoa.

Não teve a menor dúvida. Sentou-se e escreveu-lhe uma longa carta chamando-lhe atenção sobre o que tencionava fazer. Dr. José Leo nos mostrou a carta. Diz ela, nem um pouco satisfeita com o que pretendia o então deputado federal e futuro senador da República: “como filha, sou interessada no caso, e devemos, por isto, zelar a memória, que nos é sagrada, de quem tão útil foi à sociedade”.

Demonstra, no decorrer da carta, ser uma mulher que possuía autoridade e personalidade forte, sabia o que queria. Foi uma grande mulher e merece nossa admiração e nossa homenagem.

 

 

 

 

Pixinguinha

 

 

Alfredo da Rocha Vianna Filho nasceu em 23 de abril de 1897, no bairro de Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro. De família numerosa e amante da música, cedo conheceria vários instrumentos – aos 11 anos, já tocava cavaquinho com seus parentes. Pixinguinha estudou no tradicional colégio São Bento, de onde fugia, segundo Sérgio Cabral, para tocar naquele que seria o seu primeiro emprego, a casa de chope La Concha. Depois disso, apresentou-se em cassinos, cabarés e bares, tornando-se rapidamente muito conhecido nas noites da Lapa, reduto da boemia carioca.

O apelido Pixinguinha foi grafado já em sua primeira composição registrada, em 1914. Assim era chamado desde criança, numa derivação da palavra pizindin, originária da língua de sua avó africana. O apelido podia significar menino bom, mas a interpretação mais conhecida, segundo Nei Lopes, quer dizer comilão, provavelmente a tradução mais correta do termo.

Pixinguinha também se apresentava nos cinemas, com as orquestras que tocavam durante a projeção dos filmes mudos, e em peças do teatro. Suas primeiras gravações foram feitas entre 1914 e 1918. Até hoje é reconhecido como um dos melhores flautistas da música brasileira.

Em 1919, o gerente do Cinema Palais, Isaac Frankel, contratou Pixinguinha e seu grupo Oito Batutas para tocar na sala de espera do cinema. A banda caiu no gosto do público, apesar de alguma restrição da imprensa que fazia críticas de caráter racista. O repertório era composto de modinhas, choros, canções regionais, desafios sertanejos, maxixes, lundus, corta-jacas, batuques e cateretês.

Com o sucesso, o grupo viajou pelo Brasil até 1921. De volta ao Rio, foram tocar no Cabaré Assírio, no subsolo do Teatro Municipal. Lá, conheceram o milionário Arnaldo Guinle, que patrocinou a turnê européia dos Oito Batutas. A temporada, que deveria ser de um mês, acabou durando seis e o grupo voltou bastante influenciado pelo jazz.

Pixiguinha era funcionário da prefeitura desde 1930 e, em 1951, passou a ser professor de música e canto orfeônico, nomeado pelo então prefeito João Carlos Vital. Até se aposentar, foi professor em várias escolas, além de maestro da Companhia Negra de Revista, onde conheceu aquela que seria sua companheira por toda a vida.

Pixinguinha foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Ele criou o que hoje são as bases da música brasileira. Por ser um excepcional arranjador, compositor e instrumentista, dominava com rara sensibilidade a música dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e música negra americana. Pixinguinha arranjou os principais sucessos da chamada época de ouro da MPB, orquestrando de marchas de carnaval a choros. Escreveu cerca de duas mil músicas, consagrando-se como um dos compositores mais férteis de nossa cultura. Sua canção Carinhoso é a mais conhecida.

Em 17 de fevereiro de 1973, Pixinguinha teve seu segundo enfarte, durante um batizado no qual era padrinho. Apesar de ter sido socorrido às pressas, faleceu aos 74 anos.

Segundo Nei Lopes, Pixinguinha foi o fundador da moderna linguagem musical brasileira. Como homenagem por sua genialidade, seu aniversário passou a marcar o Dia Nacional do Choro.

 

 

Teodoro Sampaio

 

 

Teodoro Sampaio nasceu em 1855 na cidade de Santo Amaro, Bahia. Era filho de uma escrava do engenho Canabrava e, supostamente, do sacerdote Manoel Fernandes Sampaio, que o alforriou no batismo. Há quem registre, no entanto, que seu pai era o senhor de engenho Francisco Antônio da Costa Pinto. O próprio Teodoro, porém, jamais revelou publicamente a verdadeira identidade de seu pai.

Aos dois anos de idade foi entregue a uma senhora da sociedade, D. Inês Leopoldina, que o criou até os nove anos. Aos 10, foi levado para o Rio de Janeiro pelo padre (Manoel?) e internado no colégio São Salvador, onde mais tarde se tornou professor de Matemática, Filosofia, História, Geografia e Latim. Logo depois de formado na Escola Politécnica, em 1877, voltou à Bahia e negociou a alforria de sua mãe e de seus dois irmãos, que ainda eram escravos.

Um dos maiores engenheiros do país, além de geógrafo e historiador, Teodoro foi o primeiro a mapear a região da Chapada Diamantina. Suas anotações ajudaram Euclides da Cunha a escrever Os Sertões. Foi também um dos homens públicos de maior importância nos debates e projetos urbanísticos do país, no final do século XIX e início do XX. Hoje, municípios em São Paulo e na Bahia carregam seu nome, além de escolas, túnel, ruas e travessas de cinco bairros da cidade de Salvador e ruas de cidades como Feira de Santana, Curitiba, Londrina, Rio de Janeiro e Santos, entre outras.

Em 1879, foi criada a Comissão Hidráulica do Império, para melhorar os portos e a navegação dos grandes rios do interior brasileiro. Teodoro Sampaio fez parte da equipe, como engenheiro de 2ª Classe, mas seu nome não apareceu no Diário Oficial junto dos demais integrantes, por ser o único negro. Somente após interferência do Senador Viriato de Medeiros é que ele foi incluído no Diário. Em 1881, foi nomeado engenheiro de 1ª Classe.

Na Comissão, participou de uma expedição pelo Rio São Francisco e suas anotações serviram de base para seus livros O Rio São Francisco e A Chapada Diamantina, de 1905. Em 1883 integrou a Comissão de Melhoramentos do Rio São Francisco, como 1º Engenheiro-Ajudante. Lá colaborou nas obras de barragem e desobstrução dos trechos encachoeirados do rio.

Em 1886, Teodoro integrou a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, como 1º Engenheiro e Chefe de Topografia. No governo de Prudente de Morais (1890), assumiu a chefia dos Serviços de Água e Esgoto da cidade de São Paulo. A partir da década de 1890, Teodoro ganhou reconhecimento intelectual cada vez maior, devido, entre outros fatores, à sua participação na comissão que organizou a Escola Politécnica de São Paulo.

Em 1901, lançou o livro O Tupy na Geografia Nacional, obra reconhecida como referência fundamental no estudo do Tupy e de sua influência na formação cultural do país.

Em 1904, mudou-se para Salvador, onde se dedicou à execução do Serviço de Água e Esgoto da cidade, entre outras obras. Em 1913, foi eleito orador oficial e membro da comissão de publicação da Revista do Instituto Histórico Geográfico da Bahia, na qual teve uma grande produção. De 1922 até 1936, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia e, em 1927, foi eleito Deputado Federal.

A vida profissional de Teodoro Sampaio pode ser dividida em duas grandes fases. A primeira foi desenvolvida sobretudo em São Paulo, entre 1873 e 1903, e a segunda se deu principalmente em Salvador, de 1905 a 1935. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se ao livro História da Fundação da Cidade da Bahia, obra publicada postumamente em 1949. Teodoro morreu antes de completar o último capítulo, em 15 de outubro de 1937, no Rio de Janeiro, onde residia.

 

 

 

Zumbi dos Palmares

 

Líder do quilombo dos Palmares, Zumbi nasceu em 1655, em Palmares, atual estado de Alagoas. Era descendente dos guerreiros imbangalas, de Angola. Logo após o seu nascimento fora aprisionado pela expedição de Brás da Rocha Cardoso, e entregue ao Padre Antônio Melo em Porto Calvo.

Foi batizado com o nome de Francisco, aos 10 anos já escrevia português e latim. Aos 15 anos fugiu em busca de suas origens, voltou para o quilombo dos Palmares, onde adotou o nome de Zumbi. No quilombo, derrotou a expedição de Jacome Bezerra, e ferido em conflitos contra as tropas de Manuel Lopes Galvão e Domingos Jorge Velho.

Zumbi comandava as tropas do quilombo governado por Ganga Zumba. Em 1678, liderou um conflito interno, alcançou a liderança do quilombo, e combateu os portugueses durante 14 anos.

Em 1695, reuniu mais de 2000 palmarinos (nativos de palmares), e invadiu povoados de Pernambuco em busca de armas e alimentos. Antônio Soares, um dos líderes das tropas palmarinas, foi capturado e em troca de sua liberdade entregou ao bandeirante André Furtado de Mendonça, o esconderijo de Zumbi.

Zumbi foi capturado e morto em 20 de novembro de 1695.

Fonte:
https://www.dec.ufcg.edu.br/biografias